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Foto do escritorAdriana Tamashiro

Precisamos falar sobre nos calarmos


Publicação original no LinkedIn, em 31 de janeiro de 2021


E precisamos questionar as razões para isso, nos nossos ambientes de trabalho e na vida. Precisamos também refletir um pouco sobre processos que podem operar transformações efetivas.

Séculos de dominação de um modelo comportamental opressor, ligado a um entendimento de construção masculino ultrapassado e tóxico para toda a sociedade, não só para nós, mulheres, ocasionaram a maior parte das situações corriqueiras que vivemos hoje. Homens também são afetados, porque nem todos se encaixam e nem querem viver esse padrão. Boa parcela da opressão ou das obrigações que vivem também são originadas do mesmo sistema de forças. Mas, vou falar sempre muito mais do meu lugar como mulher.

Quero acrescentar à reflexão, um outro item que quase nunca é questionado nas estruturas organizacionais, uma herança inconsciente coletiva e cultural no Brasil: vivemos um modelo que tem origem nas práticas escravistas até hoje. Então, TODOS nós temos enraizada a ideia de que se somos, em uma escala hierárquica, subordinados a um patrão, que o mesmo pode nos punir e que temos que aceitar isso, por não termos escolha.

Quantas vezes ouvimos em algum momento, pessoas, em condições emocionais deploráveis, comentarem sobre seus ambientes de trabalho:

“Mas se eu denunciar ou processar, vão me queimar em todo o mercado e não vou conseguir mais trabalhar”

“Se eu falar que meu chefe está sendo abusivo (ou me assediando), o RH vai passar pano e serei demitida”

“Não tem jeito né? A rotina é assim mesmo e não vai mudar nem aqui, nem em outro lugar”

“Não tenho força para mudar só. Vou me ferrar se começar a reclamar”

A lista é imensa se eu for inserir todas as frases e histórias que já ouvi só nos últimos 3 anos. Acredito que já seja possível, por esses exemplos, entender o teor do papo aqui.

Bem, temos muitos problemas acontecendo ao mesmo tempo quando recebemos um desabafo desses, vou listar alguns:

1. Ambientes de trabalho tóxicos adocem mentalmente as pessoas;

2. O sistema de forças imposto impede que os colaboradores se sintam confortáveis em propor melhorias ou denunciarem práticas abusivas por receio de retaliação. Isso faz com que o índice de felicidade laboral despenque;

3. Não existindo diálogo, não existe evolução e continuamos replicando os mesmos modelos que estão fadados a fracassarem daqui em diante. Normalmente ambientes sem diálogo costumam também não permitirem, nem abraçarem diversidade cognitiva, sempre preferindo contratar pessoas de uma mesma instituição de um mesmo tipo comportamental e por aí vai;

4. Apontam para poucas lideranças preparadas de fato para lidar com pessoas, ambientes e sistemas complexos;

5. São exemplos de empresas que não possuem visão sistêmica e não entendem o impacto que geram dentro e fora da própria organização, não revendo seus processos ou próprios vícios operacionais.

Não é novidade que empresas que promovam ambientes abertos para diálogo e crescimento, tendem a acolher mais a diversidade (em todos os seus aspectos) e trabalharem melhor as lideranças para que orientem a organização a favor da evolução coletiva, não somente a individual. Essa mentalidade que vou chamar de “aberta”, também permite melhores resultados financeiros a longo prazo e melhor performance com relação aos pares de mercado, de acordo com o relatório “Diversity Matters”, da McKinsey de 2020.

O processo de mudança de mentalidade, de modelos de gestão, liderança e operações NÃO É FÁCIL, NEM RÁPIDO.


Mover uma organização toda para operar no mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible, ou Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível, em tradução livre) demanda a disposição para em algum momento, parar todos os colaboradores, revisar os pontos de dores, entender e diagnosticar os padrões relacionais em todos os eixos e ter disposição para iniciar um processo coletivo e colaborativo de cocriação.


Esse processo pode gerar uma redução momentânea na produtividade e resultados financeiros, mas é necessário entender ser uma condição temporária de readequação não superficial a uma transformação efetiva. É o famoso “dar um passo para trás para caminhar dois para frente”. Logicamente, tenta-se amenizar as perdas durante o processo, mas deve acontecer visando o aumento de produtividade, felicidade e resultados sustentáveis, a longo prazo. Quantas pessoas não vemos terem o privilégio de um período sabático em suas carreiras e quando retornam ao mercado, ressurgem como grandes transformadoras? A proposta de revisão organizacional é similar, embora a proposta de pausa não seja um afastamento completo para que ocorra, já que estamos tratando de negócios. Lembrando que tudo que for feito com o grupo e para o grupo todo, tem muito mais chances de ser perene e sustentável (porque já há transformação e engajamento cultural) e mais rapidamente, uma vez que um membro puxa o outro no processo de influência, em grupos.

NÃO SE FAZ MUDANÇA NENHUMA SOZINHO.

Não se dá conta de tamanha transformação no mundo em que estamos vivendo, se tentarmos operar sozinhos. Sozinhos, mudamos apenas a nós mesmos (embora seja o início de qualquer processo de transformação). Então não basta uma diretoria iniciar essa jornada, sem conseguir engajar toda a corporação. Todos precisam estar dispostos a melhorar os espaços em que trabalham e a própria organização precisa se dispor a um “período sabático”.

Ao promovermos transformações reais e diálogo, dificilmente teremos espaços e sistemas que calam as pessoas e acredito que seja esse o objetivo e caminho para modificarmos séculos de opressão.



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Na Empatia Criativa utilizamos Teoria U e Design Thinking para lidarmos com ambientes altamente complexos > provocamos reflexões e diálogos em equipe convidando especialistas para falar sobre assuntos específicos > promovemos um processo de mudança coletiva, com engajamento dos próprios colaboradores em dinâmicas de cocriação > reestruturamos processos > acompanhamos a evolução, intervindo sempre que necessário)



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